Muitas vezes, a
alegria e o bem-estar proporcionados pela CORRIDA podem sem prejudicados por um fator que está ou
esteve presente na vida da maioria das pessoas: dor nas costas.
As dores nas costas, principalmente na região lombar (porção final da
coluna), são muito comuns seja na presença da ATIVIDADE
FÍSICA ou não. Porém, a grande questão é saber exatamente o que provoca
essas dores nas costas, como é o caso da hérnia de disco. Conhecer a causa da
dor faz com que ela seja resolvida com mais eficiência e menor tempo,
proporcionando a volta à atividade mais rapidamente.
Inúmeros corredores chegam ao consultório frustrados e desesperados após
receberem o diagnóstico de hérnia de disco ou de desgaste (degeneração) do
disco intervertebral, muitas vezes não pela dor que estão sentindo, mas,
principalmente, pelo medo de não poderem mais CORRER.
Entender como funciona a coluna vertebral, o que é a hérnia de disco e o
que pode ser feito para evitar e tratar, na maioria das vezes diminui a
ansiedade do corredor e o auxilia a ter uma visão mais realista do prognóstico.
O que é hérnia de disco?
Para entender o que acontece no caso da hérnia de disco, é preciso saber
que a coluna é formada por articulações compostas pelas vértebras e por discos
intervertebrais que se localizam entre elas. Estes discos são formados por um
anel fibroso e um núcleo gelatinoso chamado de núcleo pulposo.
O disco intervertebral, principalmente o seu núcleo, comporta-se como um
amortecedor, absorvendo os impactos sofridos pela coluna, como os da corrida,
por exemplo, cada vez que os pés tocam no solo. Ele é responsável pela
sustentação do peso do próprio corpo e dos movimentos de inclinação e rotação
da coluna, mantendo a estabilidade da região.
A hérnia de disco acontece quando, por aumento das forças exercidas no
núcleo pulposo, esse se desloca e rompe o anel fibroso, indo em direção ao
canal medular ou em direção aos espaços por onde passam as raízes nervosas,
gerando compressão destas estruturas . Ou seja, o material gelatinoso do núcleo sái
do centro do disco e ocupa os espaços das estruturas adjacentes,
comprimindo-as.
Quando o núcleo pulposo apenas se desloca sem romper o anel fibroso,
empurrando-o contra as estruturas ao redor, chamamos de protrusão discal. Neste
caso, o material gelatinoso não extravasa, apenas empurra o anel fibroso,
causando uma compressão mais leve.
Causas
A hereditariedade é SEMPRE um fator
relevante em quase todas doenças e disfunções. A verdade é que provavelmente
99% das famílias vão ter um ou mais membros que sofreram de hérnia de disco ou
degeneração e a única medida que pode ser tomada é manter um programa de
prevenção.
Em primeiro lugar, é importante entender que todas as articulações da
coluna vertebral devem ter movimento, pois dessa maneira os discos
intervertebrais podem receber "alimento". A maior parte do suplemento
sanguíneo (oxigênio e nutrientes) chegam ao disco intervertebral através do
movimento quando o indivíduo tem mais de 25 anos. Quando o movimento é perdido
ou diminuído em qualquer parte da coluna, o suplemento sanguíneo também diminui
e com isso inicia-se um processo de degeneração.
Com o passar do tempo, se o movimento não é restabelecido na
articulação, os músculos ao redor dela começam a se encurtar, perdendo a
flexibilidade. Com isso, o espaço entre uma vértebra e outra, destinado aos
nervos, começa a diminuir, comprometendo o impulso nervoso. Além disso, o disco
intervertebral diminui de espessura como resultado da diminuição do aporte de
alimento e oxigênio e pelo fato de que o peso não é mais absorvido e
distribuído igualmente pela falta de movimento na articulação. Isso faz com que
o anel fibroso fique vulnerável a rupturas, permitindo a formação da hérnia de
disco.
Esta perda ou diminuição de movimento pode ser causada por várias
razões, entre elas: trauma na coluna, desequilíbrios musculares, diferença de
comprimento das pernas, obesidade, alterações da postura e envelhecimento. A
perda do movimento, aliada a esforço excessivo ou repetitivo, disfunções
biomecânicas e maus hábitos posturais (como pegar inadequadamente um peso do
chão, por exemplo) podem levar ao aparecimento da hérnia de disco. Isso porque
ao levantar um peso do chão, estando com o tronco inclinado para frente, sem
agachar, faz com que o disco sofra uma força na sua porção anterior, empurrando
o conteúdo do núcleo pulposo para trás e forçando uma ruptura do anel fibroso.
O movimento descrito anteriormente associado a movimentos de rotação da
coluna pode ser considerado uma postura de maior risco para a formação da
hérnia. Porém, podem existir casos em que apenas um trauma ou movimento
inadequado resulta na hérnia, mesmo sem a existência de um processo
degenerativo.
Sintomas
Os sintomas dependem da causa do aparecimento da hérnia discal. A dor
pode estar presente ou não. Poucas pessoas sentem dor na coluna assim que o
processo de degeneração se inicia, enquanto que a maioria só sente dor quando o
processo já está avançado.
Assim, é comum dores na região lombar e/ou nos membros inferiores (as
vezes até o pé), de acordo com a localização da compressão. Ou seja, se a
compressão está à direita, o sintoma será no membro inferior direito e assim
por diante. Pode ocorrer alteração da sensibilidade no membro inferior do lado
acometido e dificuldade para andar ou realizar determinado movimento por
incapacidade muscular, causada pela compressão de raízes nervosas.
Diagnóstico diferencial
Outras patologias podem provocar sintomas parecidos com os da hérnia de
disco. Por isso, é importante procurar um médico para a realização de um exame
detalhado e diagnóstico, descartando a possibilidade de: cálculos renais,
tumores e suas metástases, problemas vasculares, osteoporose, aneurismas, entre
outras.
Solução
A maioria das pessoas não vai cuidar do problema até que esteja em
"crise". E uma crise de coluna pode acontecer dez anos após o início
do problema. Por essa razão, a prevenção acaba sendo a melhor opção.
Depois de instalado, a única maneira de tratar e resolver o problema é
com uma abordagem progressiva. Não acontece num passo de mágica. A correção da
causa será gradual.
Daremos ênfase no tratamento conservador, porém alguns casos necessitam
de cirurgia ou injeções de anestésicos ou antiinflamatórios na coluna.
Em geral, podemos dividir o tratamento em três fases e se você tentar
pular uma das fases é bem provável que termine voltando para a primeira
novamente...
TRATAMENTO EM 3 FASES
Fase 1: Fase aguda
Durante a fase aguda, a articulação e todas as estruturas em volta
(músculos, nervos e ligamentos) tornam-se extremamente inflamados e espásticos
(contraídos exageradamente), o que resulta em muita, muita dor.
O primeiro e único objetivo dessa fase é "apagar o fogo". Isso
deve ser feito o mais rápido possível já que essa fase é a mais debilitante e
sofrida (em geral este estágio pode durar de 2 a 6 semanas).
As medidas mais indicadas para essa fase é descanso relativo, gelo,
fisioterapia, acupuntura e medicação antiinflamatória e analgésica. Descanso
relativo significa que você deve parar qualquer atividade física (até porque,
nessa fase, nem o corredor mais fanático conseguiria manter o treino ou, pelo
menos se mentalmente são, não deveria...). Porém, o repouso absoluto, deitado
numa cama, é indicado apenas para os casos graves onde a postura sentado ou em
pé não é tolerável devido à intensidade da dor.
Nesta fase o mais importante não é reconquistar o movimento perdido, mas
sim não exigir muito movimento na região afetada para não aumentar o processo
inflamatório e congestão já estabelecido na região.
Alguns suportes (cintas ou coletes) para a coluna ajudam no alívio da
dor nesta fase. A fisioterapia pode auxiliar no relaxamento da musculatura e
reeducar o paciente quanto às posturas mais indicadas nas diferentes atividades
do seu dia-a-dia, como por exemplo: em que posição dormir, como se virar na
cama e levantar-se corretamente, como ajustar a cadeira e a mesa do trabalho
para não agravar a dor e compressão do nervo.
Fase 2: Reabilitação
Essa é a fase que a maioria das pessoas não toma conhecimento. O
movimento deve ser restaurado na articulação da coluna e deve ser orientado um
programa de recondicionamento dos músculos que suportam e estabilizam a coluna,
que deverá ser seguido para a melhora a condição geral da coluna.
A maioria dos sofredores de dores nas costas acha que uma vez que a dor
diminui ou desaparece é porque o problema foi resolvido. A verdade é que isso é
apenas o começo da fase de correção. Essa fase dura de 4 a 6 meses de dedicação
e trabalho duro, mas você verá resultados gratificantes e duradouros.
Esta fase consta da combinação de técnicas que visam restabelecer o
alinhamento estático e dinâmico da coluna e principalmente a capacidade de
movimento em todas as vértebras da coluna. Para atingir esses objetivos o
corredor pode procurar fisioterapeutas que trabalhem com RPG, técnicas de terapia
manual como Maitland, Osteopatia e Energia Muscular. Outra opção são os
quiropratas (estes têm sua prática pouco difundida no Brasil, mas são
extremamente reconhecidos na Europa e Estados Unidos).
Juntamente com a restauração do movimento devem ser intensificados os
exercícios de estabilização da coluna, que terão o objetivo de facilitar o
recrutamento dos músculos que protegem a coluna.
Para os corredores que se interessam por anatomia e querem aprender mais
sobre os músculos envolvidos na reabilitação da coluna, os principais músculos
estabilizadores da coluna são: quadrado lombar, transverso abdominal, oblíquos,
multifidius e psoas. Estes exercícios podem ser aprendidos na fisioterapia ou
se você não tem acesso a esse serviço uma outra opção é o Pilates, que pode ser
feito em uma academia de ginástica. O mais importante é que você tenha
supervisão durante a realização dos exercícios até que esteja familiarizado com
a correta posição e execução dos mesmos para prosseguir por conta própria.
Após a conquista do recrutamento da musculatura estabilizadora da coluna
é indicado o início de fortalecimentos musculares globais: todo o grupo abdominal,
glúteos, flexores do joelho (isquiotibiais), extensores do joelho (quadríceps),
extensores da coluna (paravertebrais), entre outros. Estes músculos são
importantes para o mecanismo protetor da coluna durante a corrida, pois o
estresse, normalmente localizado na coluna lombar, deve ser transportado para
os quadris, joelhos e tornozelos, para a conquista de um sistema completamente
equilibrado.
Outro fator que contribui nessa fase é a adoção de hábitos saudáveis,
como a perda de peso se você está acima do indicado para a sua altura, e boa
postura durante as suas atividades de vida diária.
Uma vez que o atleta tenha iniciado e se adaptado aos exercícios de
estabilização da coluna e aos exercícios de fortalecimento geral, processo este
que leva em média duas semanas, os exercícios aeróbicos podem ser reiniciados e
progredidos gradualmente nesse período de 4 a 6 meses. Dependendo da gravidade
de cada caso, o médico ortopedista e/ou fisioterapeuta deverá auxiliar na
escolha da atividade aeróbica mais indicada para você iniciar a sua
recuperação.
O grau de compressão nervosa determina o momento da volta à corrida: uma
compressão mínima permite o retorno mais precocemente quando comparada a uma
compressão maior. Além disto, existem outros fatores que serão levados em
consideração: algumas compressões ocorrem ao flexionar a coluna, enquanto que
muitos casos degenerativos se agravam mais com extensão da coluna. Se o seu
caso piora com flexão, atividades como natação, deep running e corrida serão
mais indicadas. Nos casos agravados por extensão da coluna, a primeira
atividade aeróbica tolerada pelo paciente será bicicleta ergométrica (de
preferência aquela mais horizontal, com apoio nas costas). Lembre-se que no
caso da corrida o treino deve ser iniciado com um programa de trote leve em
terreno regular e a progressão também deve ser lenta e gradual.
Além de muita dedicação, paciência e motivação, você deve estar atento a
qualquer sinal que o seu corpo estiver lhe mandando. Diminua o seu treino toda
vez que sentir dor ou desconforto, seja durante ou depois da realização dos
exercícios.
O mais indicado é ter ajuda profissional durante toda essa fase. Se nã
for possível contar com os serviços de um fisioterapeuta ou treinador
familiarizado com a recuperação de problemas de coluna, tente manter o seu
médico informado sobre a sua progressão e procure ajuda se apresentar qualquer
sintoma.
Fase 3: Manutenção
Esta fase fará parte do resto da sua vida... Pelo menos, requer o menor
esforço, tempo e dinheiro para manter as excelentes mudanças conquistadas nos
meses anteriores. Se você não mantiver um programa de manutenção, existe grande
chance de voltar à estaca zero. A idade pesa sobre todos nós, principalmente
nas nossas articulações, ossos e músculos. Na nossa opinião esse não é um preço
alto a pagar pelo benefício de se manter ativo e fazendo o que você mais gosta.
Portanto, como o processo de envelhecimento é natural e inevitável, a
melhor forma de evitar a dor nas costas por causa da hérnia de disco é
prevenir, começando com bons hábitos posturais para evitar que movimentos que
parecem bobos no dia-a-dia acabem acarretando uma patologia que pode atrapalhar
os planos para uma nova prova ou meta.
Fonte:Revista Contra Relogio
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