A FISIOTERAPIA NA DISFUNÇÃO SEXUAL FEMININA

 

Observou-se que a Fisioterapia constitui uma opção viável e que, juntamente com as outras opções terapêuticas pode auxiliar no restabelecimento de uma vida sexual saudável das mulheres afetadas.

As disfunções sexuais interferem tanto na qualidade de vida das mulheres quanto no relacionamento com os seus parceiros. É capaz de influenciar a saúde física e mental e pode ser afetada por fatores orgânicos, emocionais e sociais. O transtorno de qualquer uma das fases da resposta sexual (desejo, excitação, orgasmo e resolução) pode acarretar o surgimento de disfunções sexuais. Em 2004, uma revisão sistemática sobre disfunções sexuais femininas constatou uma prevalência de 64% de mulheres com disfunção do desejo, 35% com disfunção orgásmica, 31% de excitação e 26% de dispareunia. No Brasil, uma avaliação realizada neste mesmo ano com 1219 mulheres, observou que 49% tinham pelo menos uma disfunção sexual, sendo 26,7% disfunção do desejo, 23% dispareunia e 21% disfunção do orgasmo.

Avaliação Fisioterapêutica

O terapeuta deve estar bem com a sua sexualidade, atender aos aspectos éticos e considerar a relação entre os distúrbios orgânicos e os psíquicos, a terapia deve ser do casal e com abordagem multidisciplinar (ginecologista, urologista e psicoterapeuta); a equipe deve funcionar como catalisadora para comunicação e descrição da base psicossocial das disfunções; deve-se reconhecer o temor da paciente em relação ao seu desempenho social e a seus preconceitos, tabus e princípios morais; estimular uma atitude de auto-observação (auto-exame, exploração dos genitais, exercícios específicos); relaxamento; apoio; tratamento da causa orgânica (medicamentoso, hormonal, uso de lubrificantes, cirúrgico e outros. Devem-se considerar, ainda, a idade da mulher e a sua experiência sexual. Mulheres jovens e/ou principiantes costumam apresentar dificuldade para relaxamento/lubrificação, o que é bastante compreensível e não significa disfunção, enquanto não houver experiência sexual suficiente.

Anamnese

A queixa da paciente, aliada à presença de alguns elementos de anamnese, é fundamental. Deve-se considerar que um mínimo de seis meses de sintomatologia é critério indispensável para a caracterização da disfunção. No exame subjetivo, a anamnese deve ser bem detalhada.

Vale ressaltar que também é importante a coleta de dados sobre alguns aspectos da história ginecológica: história menstrual, incluindo sangramentos irregulares que podem interferir no sexo; episódios de infecção pélvica, endometriose, cistos, fibroses e outros. Segue algumas questões que podem ser aplicadas: Quanto tempo tem o problema? Como é a dor? Com que frequência faz sexo? A dor ocorre superficialmente ou durante a penetração? Há alguma posição que melhora ou piora a dor no intercurso? A dor durante a relação sexual está interferindo na relação com o seu parceiro? Você sente o mesmo desconforto ao se masturbar?

Inspecionar detalhadamente a vulva, atentando para a anatomia normal, presença de sinais de candidíase, cistos, traumas, episiotomias, hímem, prolapso e tamanho do intróito.

Deve-se utilizar também o dedo para palpar as paredes vaginais (se tolerável). É importante salientar que o exame pélvico propriamente deve ser cauteloso, pois pode ser traumático e agravar a dor. Deve-se realizar a inspeção da genitália feminina, onde se pode observar, afastando os grandes lábios, uma melhor visualização do intróito vaginal. Se possível também avaliar o grau de força perineal através do toque bidigital.

Mulheres com pressão vaginal inferior a 30 mmhg apresentam disfunção sexual.

Nos casos de disfunção sexual feminina é de suma importância avaliar o grau de pressão vaginal para que um tratamento adequado e um equilíbrio sexual da mulher ocorram. Portanto, vê-se a necessidade de uma medição do grau de pressão da musculatura perineal para assim podermos fazer uso do tratamento fisioterapêutico e avaliar os efeitos do fortalecimento perineal sobre a vida sexual feminina.

Tratamento fisioterapêutico proposto

Os métodos fisioterapêuticos utilizados baseiam-se na contração voluntária dos músculos perineais para reeducar o assoalho pélvico e aumentar seu tônus muscular. A aplicação dos protocolos de tratamento difere consideravelmente, mas a magnitude das resistências aplicadas, as durações do tempo de contração e de repouso dependem, também, de uma posição correta da bacia e de uma respiração normal. Em relação à respiração, há variações inter-individuais importantes, pois algumas mulheres contraem melhor o assoalho pélvico na expiração e outras na inspiração.

Cone vaginal

Outra modalidade de exercício foi instituída através da utilização de pequenas cápsulas de formato anatômico, constituindo um conjunto de cinco cones de diferentes pesos progressivos, variando de 20g à 70g aproximadamente. Os cones vaginais buscam efetividade por propiciar um ganho de força e resistência muscular por meio do estímulo para recrutamento das musculaturas pubiococcígea e auxiliar periférica, que devem reter os cones cada vez mais pesados além de proporcionar à mulher uma conscientização da contração do assoalho pélvico, que segundo alguns autores, é melhor quando utilizada técnica de contato intracavitário, oferecendo mais resultados que a orientação verbal. Assim, a ação reflexa automática da musculatura do pavimento pélvico proporciona uma fisioterapia interna que rapidamente restabelece o tônus muscular interessado e promove maior conscientização perineal .

Exercícios de Kegel

Elaborado por Dr. Arnold Kegel nas décadas de 40 e 50, são utilizados para ganhar controle sobre os músculos que circundam o intróito, pois consistem em exercícios voluntários de contração e relaxamento desse aparato anatômico (pavimento pélvico e estriado uretral). Os bons resultados da técnica residem na completa compreensão por parte da paciente em como realizar os exercícios.

Cada contração pode ser sustentada por 5 segundos, em séries de 8 repetições com a paciente em diferentes posições para a realização dos exercícios como por exemplo em cúbito dorsal com joelhos flexionados e pés apoiados. Podem ser feitas, também, contrações perineais breves por 1 a 2 segundos. Esta técnica auxilia tanto no fortalecimento quanto na conscientização perineal, para melhor controle sobre a musculatura no ato sexual além de uma medida profilática para a saúde com o passar dos anos e acontecimentos que podem interferir no períneo.

Biofeedback

O biofeedback é um método de reeducação que tem um efeito modulatório sobre o Sistema Nervoso Central SNC através da utilização de uma retroinformação externa como meio de aprendizado. Esse método consiste na aplicação de eletrodos acoplados na musculatura do assoalho pélvico e musculatura sinergista (glúteo máximo, adutores e abdominais), que através de comandos verbais dados pelo fisioterapeuta, orientará os músculos do assoalho pélvico excluindo a sinergista. O objetivo do tratamento por biofeedback é de ajudar as pacientes a desenvolver maior percepção e controle voluntário dos músculos do assoalho pélvico.

Eletroestimulação

A eletroestimulação consiste na colocação intra-vaginal de um dispositivo de aproximadamente 7 cm de comprimento e 2,5cm de diâmetro com frequência de 10 e 50hz, o qual promove potentes estímulos elétricos na região pudenda. Este técnica é muito eficaz para a conscientização do assoalho pélvico e reforço muscular, porém, a corrente elétrica deve ser ajustada a um nível em que esta possa ser sentida, mas não ser desagradável para a paciente, suficiente para que seja percebida a contração da musculatura pélvica durante a estimulação.

Trabalho manual (toque bidigital)

O fisioterapeuta introduz dois dedos (o médio e o indicador) na vagina da paciente, até o local onde deve contrair. Ao localizar a musculatura que será recrutada, o terapeuta afasta os dedos para assim poder graduar a força de contração. Este pode ser graduado de 0 a 3 (0 – sem contração, 1 - pouca contração, 2 – tem contração mas não vence a resistência feita pela mão, 3- contração que vence a resistência da mão). O objetivo dessa técnica é também promover a conscientização da musculatura perineal através da contração e do relaxamento mediante o comando verbal.

Orientações Domiciliares

Torna-se imperativa no tratamento conservador a todas as mulheres, e como parte integrante do tratamento as pacientes devem utilizar também um programa domiciliar de exercícios como rotina diária de manutenção. Os exercícios só poderão ser feitos após a conscientização dos músculos perineais. Estes exercícios deverão obedecer a critérios como o número de repetições e a associação com a respiração se necessário.

Fonte: Reny de Souza Antonioli , Danyelle Simões

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